O Instituto Revoar, desde o início de suas atividades, em 2017, vem buscando referências e cada vez mais conteúdo sobre o desenvolvimento e a educação socioemocional. O CASEL (Collaborative for Academic, Social, and Emotional Learning) é uma das fontes importantes que temos investigado. Esta é uma organização internacional, sem fins lucrativos, fundada em 1994 e sediada em Chicago, nos Estados Unidos, que tem como principais objetivos pesquisar o impacto e promover a prática da educação socioemocional em ambientes escolares.
O CASEL é uma das principais organizações responsáveis pelo avanço da pesquisa e da prática da aprendizagem socioemocional (“socio and emotional learning”) na educação, auxiliando na difusão de projetos de desenvolvimento de habilidades socioemocionais em escolas, em todas as etapas de ensino, da educação infantil ao ensino médio. Além disso, a organização contribui para a divulgação da educação socioemocional a partir da sua sistematização das competências socioemocionais em um modelo com cinco domínios. O modelo oferecido pelo CASEL tem sido usado como referência para muitas iniciativas de educação socioemocional em escolas.
Em 2020, nós do Revoar, iniciamos o curso online, oferecido pelo Friday Institute for Educational Innovation, associado à Universidade Estadual da Carolina do Norte, em parceria com o CASEL. O objetivo do Curso é introduzir ou ampliar o conhecimento de educadores a respeito da aprendizagem socioemocional.
O Curso é dividido em sete unidades, cinco dedicadas a cada um dos domínios do modelo CASEL - autoconhecimento, autocontrole, consciência social, habilidades sociais e tomada de decisão responsável - além de uma introdução e uma conclusão. Em cada unidade é disponibilizado grande quantidade de material de diversos formatos como, por exemplo, vídeos, matérias de jornais ou blogs e artigos acadêmicos. A quantidade de material é tanta que é possível “se perder” em cada unidade e não avançar mais! Assim como as buscas na internet, é preciso foco para chegar ao final do Curso.
Mas além da quantidade de informação de qualidade disponível, o que nos chamou a atenção neste Curso, diferente dos outros que já tínhamos feito, foi a ênfase na importância e necessidade dos educadores iniciarem um processo de autoinvestigação e desenvolvimento de suas próprias habilidades sociais e emocionais. Além de no início de cada unidade ter sugestões de atividades que promovem esta autoinvestigação e autoreflexão, também está disponível na parte introdutória um questionário de autoavaliação das próprias habilidades para que cada participante possa se avaliar antes e depois do Curso.
Nos chamou atenção esta ênfase no autodesenvolvimento dos educadores, pois também assim iniciamos o nosso Curso Educadores em Conexão. Ao longo da nossa experiência vimos que, para que educadores possam de fato incluir como objetivo em suas aulas o desenvolvimento socioemocional com seus estudantes, é importante e necessário que estejam curiosos e abertos para olharem para si mesmos também. Para o Instituto Revoar isto é fundamental para um trabalho de educação socioemocional em sala de aula e nas escolas.
O Curso Educadores em Conexão tem a característica de ser vivencial, além de teórico e prático. E isso significa que o iniciamos buscando promover conexões nas dimensões intra e interpessoal.
O primeiro nível de conexão é sempre consigo, na dimensão intrapessoal. Isso faz com que cada participante possa se ver dentro do processo, se conectando com seus sentimentos, necessidades, motivações, potências individuais e cuidando do que está vivo. Acreditamos que o processo deve ser iniciado buscando conectar cada educador com a sua escolha profissional e com a sua trajetória de vida em relação à educação, em um exercício de identificação de: sonhos, valores, o que acredita por educação, o que quer entregar para o mundo através da sua prática e como gostaria de ser lembrado com seu trabalho.
O segundo nível de conexão está relacionado à dimensão interpessoal e tem como foco a criação de um ambiente de confiança e troca entre o grupo, explorando a importância de criar/pertencer a uma rede de apoio e conexão, no dia a dia das práticas educativas. Neste momento o grupo amplia e aprofunda as suas relações através de práticas coletivas e de criação de vínculos.
O terceiro nível de conexão também está relacionado à dimensão interpessoal, entretanto com foco na relação entre educadores(as), educandos(as) e a escola. É fundamental exercitarmos o olhar investigativo e empático para uma uma melhor relação com outras pessoas. Portanto, entender quem são os(as) educandos(as), seus sonhos, dores, o significado da educação para ele(as), além de seus desejos e facilidades de como aprender fazem parte. Além disso, estimulamos a conexão ou a reconexão com a escola, resgatando a possibilidade de se relacionar com o espaço escolar de forma apreciativa, afetiva, significativa, inovadora e propositiva.
Esses três níveis de conexão, acreditamos, são as bases para que a educação socioemocional seja desenvolvida de forma intencional com os estudantes em sala de aula e na escola, pois a consciência da importância e necessidade do desenvolvimento socioemocional vem a partir da experiência, de um processo de vivência e reflexão.
E por que falamos “de forma intencional”? Porque a intencionalidade realmente faz muita diferença. De forma instintiva muitos educadores adotam práticas diárias em suas salas de aula que contribuem para o desenvolvimento social e emocional de seus estudantes. Não é raro que educadores, quando iniciam o estudo de como realizar a educação socioemocional, reconheçam práticas que já desenvolvem em sala de aula, porém, sem dar a devida atenção a elas ou colocá-las como objetivos acadêmicos.
Entretanto, quando estas práticas são realizadas de forma intencional, com a consciência e planejamento, os efeitos das mesmas são potencializados. Ter a intenção de realizar uma educação socioemocional em sala de aula significa planejar uma aula pensando no seu objetivo acadêmico e também no seu objetivo de desenvolver alguma habilidade social ou emocional específica como, por exemplo, a identificação de sentimentos, valores ou exercitando a empatia, a cooperação, entre outros.
Além disso, a intencionalidade pode fazer com que uma prática que já acontece cotidianamente ganhe mais relevância, com mais foco e ´contorno`. Planejar com intencionalidade também faz com que se coloque atenção na observação de mudanças, na avaliação. Assim, quando há intenção, o desenvolvimento socioemocional passa também a ser um objetivo e, desta forma, também pode e deve ser acompanhado e avaliado.
A intencionalidade é, portanto, essencial para a construção de um ambiente atencioso e seguro em sala de aula que é importante para o desenvolvimento de habilidades sociais e emocionais dos estudantes, assim como para o bem-estar e aprendizado dos mesmos.
A criação de ambientes seguros e de confiança e o desenvolvimento socioemocional caminham juntos e é por esta razão que iniciamos nosso Curso Educadores em Conexão buscando criar este tipo de experiência para os educadores participantes.
Neste ano de 2021, o Revoar elaborou um material que pudesse acompanhar e aprofundar a experiência de autodesenvolvimento dos educadores participantes do Curso Educadores em Conexão. O “Diário de Conexão“ entregue impresso na casa de cada participante do Curso foi um material sonhado e criado pelo Revoar para registro de inspirações, percepções, ideias, construções artísticas e aprendizados vindos, tanto das atividades propostas durante os encontros do Curso, como também de propostas de investigações pessoais que buscam estimular o processo de autodescoberta e autodesenvolvimento.
Referência Bibliográfica:
Robert J. Jagers, Deborah Rivas-Drake & Brittney Williams (2019) Transformative Social and Emotional Learning (SEL): Toward SEL in Service of Educational Equity and Excellence, Educational Psychologist, 54:3, 162-184, DOI: 10.1080/00461520.2019.1623032
Graczyk, P. A., Matjasko, J. L., Weissberg, R. P., Greenberg, M. T., Elias, M. J., & Zins, J. E. (2000). The Role of the Collaborative to Advance Social and Emotional Learning (CASEL) in Supporting the Implementation of Quality School-Based Prevention Programs. Journal of Educational and Psychological Consultation, 11(1), 3-6. https://doi.org/10.1207/s1532768xjepc1101_02
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