21 de março é dia internacional de combate à discriminação racial e uma ótima oportunidade para pensar de que forma a educação socioemocional pode contribuir na pauta antirracista dentro do ambiente escolar.
Partindo do princípio de que enquanto houver racismo, não haverá democracia, a educação integral deve ser também antirracista.
A filósofa afro-americana Angela Davis diz que “numa sociedade racista não basta não ser racista, é preciso ser antirracista”. No Brasil, a educação antirracista passa pela aplicação da lei 11.645/2008, que estabelece a obrigatoriedade da temática história e cultura afro-brasileira e indígena no currículo da educação básica, mas deve acontecer para além da retratação e reconhecimento das contribuições históricas. “Pensar em um ambiente antirracista é rever as escolhas curriculares, as representações, os lugares de poder, quais são as narrativas que vão circular dentro desse ambiente” (EDUCADOR 21, 2021). Deve estar no Projeto Político Pedagógico de toda instituição de ensino e nas práticas de acolhimento.
“A palavra acolhimento significa lugar onde se encontra amparo, proteção e refúgio e deriva do verbo acolher, que quer dizer dar ouvidos e levar em consideração. Quando não se sentem protegidas, amparadas e percebem que sua história não é relevante dentro do ambiente escolar, as crianças não querem mais ir para a escola, o que afeta seu desenvolvimento e aprendizado” (DENTRO DA HISTÓRIA, 2021).
É neste contexto que a educação socioemocional pode contribuir com a educação antirracista, que parte do acolhimento, na criação de espaços de escuta e autoexpressão no exercício de reconhecimento das vozes, das narrativas e dos lugares de fala de negros, indígenas e demais estudantes.
Assim, o desenvolvimento das competências socioemocionais (CSE) pode colaborar com a democracia no espaço escolar ao combater o racismo: trabalhando a CSE “Autoconhecimento” que valorize a autoestima pela representação de crianças negras e indígenas, na experiência da CSE “Regulação Emocional” pela gestão e expressão saudável das emoções, rompendo silenciamentos e apagamentos que traumatizam; a prática da CSE “Empatia” no respeito e valorização da diversidade (racial, mas também religiosa, etc); e pelo exercício da CSE “Cooperação” ao envolver todos os estudantes na ação antirracista.
A importância do acolhimento na expressão de “vozes caladas” pelo racismo estava presente na posse da Ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco em janeiro de 2023, ao ler o poema “Vozes Mulheres” da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo:
“A voz de minha bisavó
ecoou criança
nos porões do navio.
Ecoou lamentos
de uma infância perdida.
A voz de minha avó
ecoou obediência
aos brancos-donos de tudo.
A voz de minha mãe
ecoou baixinho revolta
no fundo das cozinhas alheias
debaixo das trouxas
roupagens sujas dos brancos
pelo caminho empoeirado
rumo à favela
A minha voz ainda
ecoa versos perplexos
com rimas de sangue
E fome.
A voz de minha filha
recolhe em si
a fala e o ato.
O ontem – o hoje – o agora.
Na voz de minha filha
se fará ouvir a ressonância
O eco da vida-liberdade”.
Por fim, o que se espera, é que a educação socioemocional possa contribuir com a democratização das vozes no espaço escolar, contribuindo para uma educação antirracista.
* DENTRO DA HISTÓRIA. Educação Antirracista: saiba o que é e como praticar. Publicado em:´18/11/21. Disponível em: https://www.dentrodahistoria.com.br/blog/familia/educacao-antirracista-o-que-e/
EDUCADOR 21. Como promover uma escola antirracista? [Escrito pela Equipe Pedagógica do LIV]. Publicado em: 11/11/2021. Disponível em: https://educador21.com.br/post/como-promover-uma-escola-antirracista
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